domingo, 29 de junho de 2014

Vamos nos permitir


 Era uma segunda-feira. O dia exato eu não sei. 
 Eu sou do tipo de pessoa que odeia reclamar da vida, pelo menos em voz alta. Acho que ao fazer isso estou sendo muito ingrata. Acredito que a vida sempre traz algo bom pra gente e insistimos em valorizar o que está dando errado. Talvez por isso eu tenha dificuldade em entender quem reclama e se desespera com tudo. Vejo os problemas das pessoas quase sempre como dramas escritos por elas mesmas que podem ser resolvidos ou não, de qualquer forma a vida segue. Tudo passa. Porém, aquela segunda-feira foi um dia diferente. Foi diferente pois, talvez, tenha sido um dos dias mais difíceis do ano, até agora, pra mim. Diferente porque naquele dia os sentimentos que predominavam eram medo e ansiedade. Muito disso resultado da cirurgia que meu pai faria no dia seguinte. Mas a questão é que naquele dia, eu me permiti. Me permiti agir exatamente da forma que eu não concordava. Me permiti sentir toda a saudade de pessoas que estavam longe. Me permiti me emocionar por tantas pessoas queridas estarem na minha vida. Me permiti chorar de medo e ansiedade e ser consolada no silêncio de um abraço por uma pessoa que gosto muito, mas que eu odiava demostrar fragilidade na sua frente. Me permiti reclamar e encerrar aquilo que eu achava já não estar fazendo bem mais e me permiti chorar de medo de ter tomado a decisão errada. Me permiti perguntar porque as coisas estavam sendo daquele jeito...
  Pode ser que aquele dia não tenha terminado na segunda-feira, pode ser que ele tenha se estendido àquela semana, àquele mês e, talvez, tenha em mim até hoje um pouquinho dele, pois aqui estou, me permitindo escrever sobre. Aprendi com aquela intensa segunda que permitir-se viver a vida não é somente colocar uma mochila nas costas e sair desbravando o mundo, aproveitar as sextas-feiras com os amigos, ou arrumar um tempo, dentro da correria do dia-a-dia, para curtir  a família. Aprendi que se permitir também é sentir toda a dor e não anestesiá-la, é chorar pela falta de respostas que é obvio que nem sempre a gente tem, permitir-se, citando Ana Jácomo, "É aceitar doer inteiro até florir de novo." Afinal, nem todo dia é sábado e as segundas-feiras também existem, e tudo bem elas existirem e a gente não gostar delas, né? Como eu disse lá em cima: tudo passa. Então tá valendo se descabelar por um dia, contanto que voltemos, no dia seguinte, a nos pentearmos. 

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